“Ecos da Ida e do Retorno” é o mote da exposição inaugurada no Museu do Linho de Várzea de Calde, em Viseu. Trata-se de um projeto multimédia com curadoria da associação Binaural Nodar.
Durante alguns meses, a Binaural Nodar percorreu várias aldeias da freguesia de Calde, onde ouviu as histórias contadas por quem teve de deixar a sua aldeia e país em busca de melhores condições de vida. Os registos fazem parte da exposição, que inclui ainda fotografias antigas e atuais dos protagonistas dessas vivências, cujos testemunhos envolvem três continentes.
Na inauguração, o presidente da Junta de Calde, José Fernandes, destacou o trabalho feito pela Binaural Nodar na freguesia desde 2016 e enalteceu o contributo dos participantes.
“Calde é uma freguesia rural, com grandes potencialidades e acolhedora, e os nossos habitantes, quando são solicitados, estão sempre presentes para dar o seu melhor”, realçou.
Luís Costa, coordenador da Binaural Nodar, por sua vez, realçou a importância que a associação dá “à memória e às tradições dos lugares", com especial destaque para os espaços rurais. “Este museu fala muito das raízes, do linho, das tradições, do património geográfico e natural. Quisemos trazer, para a sala das exposições temporárias, o tema da emigração, pois é, também, uma caraterística das nossas aldeias", notou.
Por outro lado, realçou “as memórias” de quem procurou fugir à “pobreza de antigamente” e que, no regresso, trouxe conhecimentos que “enriqueceram o património das aldeias”.
“Cada experiência é única, porque foram trabalhos diferentes, vidas diferentes, encontros diferentes. E essas histórias, tanto as origens como as viagens, fazem parte do património da aldeia”, defendeu.
Para Luís Costa, o trabalho “Ecos da Ida e do Retorno” tem ainda maior preponderância tendo em conta que Portugal está a ser muito procurado como país de acolhimento.
“Numa altura em que as nossas terras estão a receber gente de fora, temos de saber receber bem. Da mesma forma que muitos de nós fomos bem recebidos e aprendemos lá
fora, agora é a nossa vez”, desafiou, apelando a um compromisso de integração entre quem recebe e quem chega em busca de novas oportunidades.
Por outro lado, o responsável lançou um repto aos emigrantes, que em breve vão chegar de férias às suas raízes, para que passem pelo Museu de Várzea de Calde e visitem a exposição.
A mostra conta com obras de Ana Rodríguez (Uruguai), André Araújo (Portugal), Liliana Silva (Portugal), Luís Costa (Portugal), Niccolò Masini (Itália), Rafael Bresciani (Brasil/Itália) e abrange aspetos relacionados com os processos migratórios antigos e atuais existentes na freguesia de Calde e, mais genericamente, na região de Viseu.